Treinadores portugueses regressam a Wuhan

Técnicos regressam à cidade chinesa depois de em fevereiro passado terem  sido repatriados para Portugal.

Precisamente um ano após o surgimento dos primeiros casos de covid-19, a cidade chinesa de Wuhan, epicentro da pandemia do novo coronavírus, voltou a ser “normalíssima”.  Quem o diz é Luís Estanislau, treinador adjunto do Hubei Chufeng Heli, clube da segunda divisão chinesa, que em fevereiro foi um dos muitos portugueses que foram repatriados para Portugal. 

Em Fevereiro do ano passado, as horas teimavam em não passar e Luís Estanislau aguardava por uma comunicação da embaixada portuguesa na China. O cenário descrito por Estanislau e seus colegas portugueses emocionou os portugueses, “as prateleiras dos supermercados estavam vazias e a vida em Wuhan, epicentro da pandemia de covid-19, deteriorava-se de dia para dia […] Estávamos em pânico com tudo o que estava a acontecer e a forma como a população de Wuhan estava a reagir em relação ao acesso aos bens essenciais como comida e outros”, relembra o treinador numa entrevista ao Público. 

Além de Luís Estanislau, Luiz Felipe e Miguel Matos, ambos treinadores, também regressaram a Wuhan. 

O regresso a casa aconteceu em Fevereiro, num voo assegurado pelo governo português, que trouxe todos os portugueses que quiseram voltar a Portugal. Cumpriu a quarentena num hospital em Lisboa e ficou em Portugal até agosto, altura em que decidiu regressar a Wuhan. 

 Após o regresso a Wuhan — onde passou a quadra natalícia — constatou que o cenário do início do ano se tinha alterado drasticamente. “Não tive qualquer receio [em voltar a Wuhan], até porque, quando regressei, a situação estava pior em Portugal do que na China, então senti que estava a fugir ao vírus pela segunda vez.” A vida tinha voltado ao normal e a viagem de regresso parecia ter sido a decisão mais acertada, olhando para o número de infeções diárias que Portugal registava. 

O treinador adjunto considera que a cidade onde o vírus teve origem é, neste momento, um sítio mais seguro do que Portugal, atribuindo importância às medidas drásticas que o Governo chinês impôs para estancar o contágio e a subida de novos casos de covid-19.

“Penso que na China foram adoptadas medidas ‘macro’, medidas importantes mas ‘invisíveis a olho nu’. Passo a explicar: em Portugal foram adoptadas muitas medidas ‘micro’, como uso o de máscara, não serem permitidos ajuntamentos, [funcionamento de] bares e restaurantes com novas regras. Ou seja, muitas, mas medidas pequenas. Na China optaram por medidas mais imponentes como o encerramento das fronteiras, quarentena obrigatória para toda a população durante mais de 90 dias e testagem de mais de 60% da população. A partir daqui é muito mais fácil controlar a pandemia. Chineses ou pessoas que trabalhem na China, se quiserem regressar [ao país] têm que fazer quarentena obrigatória e pagar do seu próprio bolso”, explica. 

Com a ausência de novos casos no primeiro epicentro da pandemia – de acordo com as informações das autoridades de saúde chinesas – Wuhan procura reativar a economia. 

A diversão nocturna está de regresso e milhares de pessoas celebraram a passagem de ano nas ruas. O carácter repressivo do regime chinês contribuiu para esta regressão do número de casos ou a população chinesa aderiu voluntariamente às medidas decretadas pelo Governo? 

Questionado se o povo chinês foi mais receptivo às regras sanitárias do que os portugueses, Luís considera que os cidadãos de Wuhan depositaram confiança total nas medidas do Governo.

“Temos por hábito dizer que a política na China é mais rígida, dura, que o comunismo reina neste país. O que eu sinto é que as pessoas acreditam muito que aquilo que o Governo diz é para o seu próprio bem. Obviamente que eles atribuem defeitos ao Governo, como em todo lado, mas por outro lado acreditam que estão 100% seguros. Não falo só em relação ao vírus! Em Portugal questionamos todas as medidas. Aqui cumpre-se. É a diferença.”

A vida regressou ao normal na cidade onde foram identificados os primeiros casos de covid-19, mas a revelação do vírus à comunidade internacional, à revelia do Governo chinês, teve custo elevados.

Jornalistas e activistas foram perseguidos e encarcerados. Apesar das fortes medidas tomadas para conter o vírus quando foi conhecida a dimensão do problema – que se espalhava rapidamente por outros países –, Pequim admitiu em Fevereiro ter falhado na resposta inicial aos primeiros casos de covid-19, prometendo proibir os mercados de vida selvagem, responsáveis pela transmissão do vírus a humanos.

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