Os desafios da Nova Rota da Seda

Entrevista a Fernanda Ilhéu sobre esta iniciativa. Cooperação, Cultura e Conhecimento são palavras chave. 

Apesar dos alarmismos e das medidas de prevenção instaladas em todo o mundo devido à situação actual do Covid-19, Portugal e China continuam a manter fortes laços de confiança e de desenvolvimento mútuo. Exemplo disso, é a nova rota da seda que o governo chinês tem em curso.  O Ni Hao Portugal esteve à conversa com Fernanda Ilhéu, presidente da Associação de Amigos da Nova Rota da Seda, responsável pela iniciativa em Portugal. O objectivo, compreender os contornos e as expectativas deste plano.

One Belt One Road, ou Uma Faixa Uma Rota como também é conhecida, é uma ambiciosa iniciativa lançada em outubro de 2013 pelo governo chinês, que oferece oportunidades significativas de cooperação financeira, investimento (sobretudo na área dos transportes e infraestruturas) e desenvolvimento económico e comercial a todos os países a ela associados, dentro e fora da China. Pelas rotas, circulam produtos, pessoas e dinheiro para unir os cinco continentes. 

No total, mais de 60 países estão envolvidos no plano estratégico, por meio terrestre, marítimo ou ferroviário.

O plano deste projecto assenta na visão de uma cooperação regional e internacional que se entende desde a Ásia Oriental até ao Continente Europeu, passando por vários países em desenvolvimento. 

“Uma Faixa Uma Rota abrange a Europa, América, Médio Oriente, Ásia e África, passando pelo Oceano Pacífico, Oceano índico e Mar Mediterrâneo […] Além de constituir um vínculo de interconexão entre vários espaços, a acção poderá converter-se numa porta de entrada para o grande mercado. Estamos a falar de um mercado de quase dois mil milhões de consumidores”, explica Fernanda Ilhéu. 

Das várias questões que se levantam nesta altura, Fernanda Ilhéu aponta de imediato duas: se Uma Faixa Uma Rota terá ou não os efeitos geoeconómicos e geopolíticos e civilizacionais que a Rota Portuguesa teve outrora e se a Comunidade de Países de Língua Oficial Portuguesa (CPLP) poderá  enquadrar-se e beneficiar da sinergia positiva que esta iniciativa contém.  

Actualmente, a CPLP reúne seis países africanos (5 dos quais língua oficial portuguesa), um país europeu (Portugal), um país da América do Sul (Brasil) e um país asiático (Macau), formando no seu todo “um conjunto com enorme potencial”. 

Para a CPLP,  a Nova Rota da Seda tem um potencial de sinergias entre os possíveis desdobramentos, não só através da iniciativa [Uma Faixa Uma Rota], como também da Agenda 20/30 das Nações Unidas. Além disso, Fernanda Ilhéu aponta outras vantagens aliciantes. 

“O eventual papel da CPLP na implementação da iniciativa da Uma Faixa Uma Rota na área da energia que constitui junto das infraestruturas e transportes os seus eixos fundamentais; os potenciais efeitos geopolíticos da iniciativa na construção de uma nova ordem mundial; eventual complementaridade entre as cooperações chinesas no desenvolvimento de países africanos de língua oficial portuguesa”. 

Nesta Nova Rota da Seda, a iniciativa preocupa-se em dar resposta às grandes mudanças que estão a ocorrer no mundo e Fernanda Ilhéu sublinha que a sustentabilidade é uma das principais preocupações numa época em que se assiste a grandes desigualdades ambientais e políticas. 

Em Portugal, a 5 de dezembro de 2018, durante a visita do presidente chinês Xi Jinping, os governos, português e chinês, assinaram um memorando de entendimento que estabelece as modalidades de cooperação bilateral no âmbito desta iniciativa. De ressalvar que Portugal foi o primeiro país da Europa Ocidental a assinar um memorando com a China. 

Em dezembro do ano passado, Fernanda Ilhéu, em conjunto com Francisco Leandro e Paulo Duarte, lançaram o livro “The New Silk Road and the Portuguese Speaking Countries in the Next World Context” que aborda alguns dos desafios, oportunidades e objectivos deste plano e dos países a ele associados. 

Notícia relacionada.

A Associação Amigos da Nova Rota da Seda, principal promotora da iniciativa em Portugal, propõe-se, através de um esforço colectivo de análise, reflexão e comunicação, encontrar formas e projectos de cooperação entre Portugal e a China e de ambos com terceiros países, nomeadamente os Países de Língua Oficial Portuguesa, dentro do espírito da iniciativa Uma Faixa Uma Rota. 

A presidente aproveitou ainda para sublinhar que “este projecto abrange 4,4 biliões de pessoas, cerca de 63% da população mundial, 65 países e 40% do PIB Mundial”. 

O caminho a percorre é longo, mas Pequim, o principal impulsionador da iniciativa, aponta 2049 como o ano para a conclusão da One Belt One Road, a Nova Rota da Seda. 

Assista de seguida à reportagem do Ni Hao Portugal, complementando-a com a entrevista a Fernanda Ilhéu.

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