António Costa Silva, o gestor nomeado pelo governo para coordenar os trabalhos preparatórios do plano de relançamento da economia considera que Portugal tem de repensar o seu posicionamento relativamente ao seu papel na nova rota da seda.
Em entrevista à Agência Lusa, afirma que “a China, nesta crise, revelou de facto algumas facetas que são sempre esperadas de um regime totalitário, mas não na dimensão em que elas ocorreram”.
Questionado sobre o papel de Lisboa na nova rota da seda, António Costa Silva não hesita. “O distrito de Lisboa deve repensar porque nesta altura (…) há muita coisa nova a passar-se no mundo e, portanto, nós vemos as reacções que tudo isso está a provocar em termos deste novo posicionamento e desta nova guerra fria que existe […] Mas eu separaria esse ponto, que é vital e que a Europa tem que reflecti, da relação económica com a China, pois a relação económica de Portugal com a China é uma relação boa e deve manter-se”.
“Penso que temos de ser mais cuidadosos do que nunca, nós Portugal, mas mantendo o nível das relações económicas e discutindo com os nossos parceiros europeus provavelmente uma abordagem unificada para este problema que se está a gerar no mundo”, acrescenta.
Relativamente ao facto de sectores estratégicos como a energia em Portugal estarem nas mãos de investidores chineses, António Costa Silva recordou que na altura da sua entrada no capital foram estes que apareceram. “Na altura também que era necessário foram os chineses que apareceram. É evidente que é sempre um bocado difícil quando nós analisamos ver a dependência de setores estratégicos de uma empresa chinesa, do Estado chinês, que as empresas que estão presentes quer na EDP, quer nos outros sectores chave da energia, são empresas estatais chinesas”, apontou o gestor, que vai coordenar os trabalhos preparatórios de elaboração do Programa de Recuperação Económica e Social 2020-2030.
“É um fenómeno novo com que nos temos de deparar, mas é por isso que, provavelmente, nesta nova fase é muito importante termos uma economia mais resiliente e o que nós precisamos é de várias empresas nacionais que sejam realmente resilientes e não só uma, duas ou três com este paradigma de dependência do exterior”, considerou.
Questionado sobre não ser tranquilizador o retrato de Portugal ter algumas das suas grandes empresas estratégicas nas “mãos” de investidores chineses, o presidente da Partex foi perentório: “Não é”. Na altura, “provavelmente, poderia ter havido um maior equilíbrio na selecção dos accionistas, poderia ter havido um maior equilíbrio na conjugação dos vários poderes”, disse António Costa Silva, que neste momento prepara o plano de recuperação económica do país para uma década.
“Temos uma relação histórica com o Reino Unido, com os Estados Unidos. Mas na altura [em que os chineses entraram nas empresas portuguesas] também compreendo que a situação era extremamente difícil, era preciso encontrar uma solução”, prosseguiu. Mas, “às vezes a pressa é má conselheira”, rematou o gestor.