Celebram-se amanhã, 1 de outubro, 70 anos desde o dia em que o Líder do Exército de Libertação Popular, Mao Tse-tung, proclamou a República Popular da China, na Praça de Tiananmen, em Pequim.
Após um século de lutas constantes entre o Partido Comunista e o Nacionalista, o triunfo chegou em outubro de 1949 nas mãos do Partido Comunista. A data ficou até hoje conhecida como a Revolução Chinesa e encerrou o capítulo do governo republicano conduzido pelo Partido Nacionalista Chinês.
Já sob o comando do Partido Comunista da China (PCC), iniciou-se a República Popular da China (RPC). Nesse tempo, ansiava-se uma época de grandes mudanças sociais no país, em direção a uma sociedade igualitária, com o compromisso de enfrentar os desafios de um país “nitidamente atrasado em relação às nações industrializadas”.
Ao longo destes anos, nem sempre a história da China foi um mar de rosas, mas a verdade é que hoje é um dos países mais fortes e empreendedores do mundo.
Os anos turbulentos que caracterizaram os anos após a revolução
Depois da conquista do poder em outubro de 1949, o partido comunista centrou as atenções no crescimento do setor económico no pais, com o objetivo de debelar a inflação que acompanhava o país desde o final da Segunda Guerra Mundial e de recuperar o setor produtivo, devastado ao longo dos conflitos entre os partidos comunistas e nacionalistas.
Os primeiros 30 anos após a revolução marcaram um período de grande turbulência, com muita fome e grandes desigualdades sociais e económicas. “Nesse período, a China isolou-se de todo o mundo, regrediu em termos económicos e sociais e viveu três momentos cruciais: O Grande salto para a frente, a Revolução Cultural e a Camarilha dos quatro”.
O Grande salto para a frente tinha como principal objectivo transformar a China Comunista numa nação desenvolvida e socialmente igualitária. Em 1957, Mao Tsé-tung determinou o prazo máximo de 15 anos para o país se desenvolver na indústria e na agricultura em simultâneo. Na indústria, o principal objetivo era ultrapassar o Reino Unido, até então uma das principais potências industriais do mundo.
Entre 1958 e 1960, os números atingiram recordes “na produção de arroz, algodão, trigo e amendoim. As colheitas no final de 1958 duplicaram face às do ano anterior”. Para o então líder, o importante era atingir os objectivos traçados e tornar a China como a principal potência do mundo, mesmo que isso se traduzisse na fome, na tortura e nos homicídios cometidos ao longo desse “salto” económico e industrial, traduzidos em cerca de 50 milhões de mortes.
A 16 de maio de 1966 foi o dia em que começou a Revolução Cultural na China. Nesse dia, o partido comunista chinês emitiu um comunicado, conhecido como “A notificação de 16 de maio”, no qual denunciava a existência de elementos contrarrevolucionários dentro do partido, que pretendiam alterar as diretrizes da revolução.
No documento, sinalizava-se a “necessidade de detetar e neutralizar esses elementos. Esse documento acabou por conduzir ao afastamento de vários notáveis do partido, concentrando todo o poder nas mãos de Mao e de um pequeno grupo de fiéis”.
Nos meses seguintes, o líder lançou o Programa de Eliminação dos Chamados 4 Velhos: as velhas ideias, a velha cultura, os velhos costumes e os velhos hábitos, que se traduziram na destruição do património cultural do país.
Queimaram-se livros, destruíram-se obras de arte, mobiliário e perseguiram-se artistas, intelectuais e professores. Fecharam-se escolas e criaram-se os Guardas Vermelhos – “uma milícia paramilitar de jovens maoistas que chegou a ter um poder desmesurado”. O líder comunista incentivava os jovens a atacarem todos os valores tradicionais que encontrassem, bem como tudo o que fosse burguês.
Mao Tsé-tung tornou-se “num ícone e objeto de cultura da personalidade e a revolução. Apesar de ter abrandado, a Revolução Cultural prolongou-se por cerca de 10 anos, terminando oficialmente em 1976, após a morte do líder”.
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A Camarilha dos Quatro foi um período histórico que se seguiu, marcado por grandes lutas de poder e perseguição àqueles que se oponham aos ideais do comunismo. Conhecido como o Bando dos Quatro, o grupo era liderado por Jiang Quing, a terceira mulher do líder chinês, Yao Wenyua, responsável pela propaganda oficial, e Zhang Chunquiao e Wang Hongwen, dois homens poderosos de Xangai.
Nessa época, o país vivia um período de terror com a deportação de milhões de pessoas para campos de trabalho e a constante vigilância e repressão levada a cabo por este grupo. Após a morte do líder chinês, o país viveu uma “sangrenta luta entre fações, que acabaria com a subida ao poder de Deng Xiaoping”.
Quando chegou ao poder, Deng Xiaoping ordenou a pena de prisão a todos os elementos do Bando dos Quadro. O julgamento ditou pena perpétua aos intervenientes, com exceção de Yao Wenyua, condenada a apenas duas décadas. Ainda hoje, continua a ser um assunto sensível e de vergonha para a comunidade chinesa.
Um grande salto para o sucesso mundial chamado Deng Xiaoping
Entre 1976 e 1978, Deng Xiaoping assumiu o poder na China e introduziu desde cedo uma série de medidas que acabariam por ficar conhecidas como a Segunda Revolução, provocando uma transformação quase total no país.
Para o presidente, a China estava “progressivamente atrasada economicamente em relação às principais potenciais industriais, o que poderia colocar em risco a própria manutenção do regime”. À época, a China era a 120ª encomia do mundo.
Por essa razão, era necessário implementar uma política de reforma e abertura, centrando-se no principal objetivo de modernizar o país. “O plano de modernização baseava-se, principalmente, na atracção de investimentos estrangeiros. No âmbito da política externa, a China procurava equilibrar-se entre as duas superpotências da época, Estados Unidos da América e a União Soviética, sem se alinhar a qualquer uma delas. O que prevalecia era o esforço concentrado na defesa do interesse nacional identificado com o crescimento económico”.
Além disso, o presidente incentivava o capital privado e as exportações, iniciando-se uma forte relação comercial e diplomática entre a China e os EUA. Neste período, “os EUA tornaram-se num elemento central na busca pela paz mundial e pelo bem-estar global”.
A partir de 1980, surgiram as Zonas Económicas Especiais (ZEE) – o momento de transição do comunismo chinês para o capitalismo. As ZEE consistiam, essencialmente, nas “áreas destinadas para o direccionamento da actividade industrial a partir do oferecimento de vantagens para atrair investimentos estrangeiros”. Assim sendo, a China começava a procurar potenciais parceiros estrangeiros para abrir os seus espaços no país.
Se, por um lado, as empresas estrangeiras ajudavam a desenvolver o país asiático, por outro, a China oferecia grandes atrativos estratégicos às empresas – melhor acesso às matérias-primas, baixos impostos locais, uso de mão de obra barata e abundante e infraestruturas adequadas para rápida exportação.
A Coca-Cola foi a primeira empresa estrangeira a apostar no mercado chinês e abriu a sua empresa multinacional nesse mesmo ano.
De acordo com os dados do Fundo Monetário Internacional (FMI), o PIB da China, em 1980, era de 2,3%, face aos 21,6% dos Estados Unidos da América (EUA), quase 10 vezes maior. Em 2014, a economia chinesa superou a americana e em 2019 o PIB da China já representava 19,7% do PIB Mundial, contra os 14,8% dos EUA. “Nunca na história um país galgou um crescimento tão rápido e expressivo” e isso só demonstra que a China, nos últimos 40 anos tem-se desenvolvido, reinventando-se, sendo, para muitos um exemplo de sucesso.
Quanto à população, ao longo dos tempos a China tem crescido substancialmente. “Entre 1820 e 1948, a população chinesa crescera 49% e apenas nos 26 anos decorridos, entre 1952 e 1978, o país passou de 569 milhões de habitantes para 956 milhões, um aumento de 68%”. Este aumento deveu-se, sobretudo, ao fim dos conflitos armados e às melhorias verificadas na saúde.
Com o regime de Deng Xiaoping, foram asseguradas as condições mínimas de vida, na área da saúde, educação e emprego, promovendo-se uma igualdade social, contrário ao vivido no Período Maoísta.
“A Revolução Chinesa de 1949 não trouxe apenas a promessa de uma ordem social igualitária, capaz de enterrar as estruturas sociais tradicionais herdadas, mas também, o compromisso com o progresso económico e com a afirmação da soberania do país na ordem internacional que se configurou após o final da Segunda Guerra Mundial”.
A data está lançada para a China se tornar na maior potência economia do mundo
Hoje, a República Popular da China já possui 1,4 bilhão de habitantes, sendo o país mais populoso do planeta. Para além disso, é o terceiro país mais extenso e, desde 2010, assume-se como a segunda maior potencia económica do mundo, atrás dos EUA.
Para os próximos anos, a previsão é que o pais asiático consiga chegar ao lugar de ouro e para o actual presidente da China, Xi Jinping, 2049 será o ano que a China conquistará o efeito, no ano em que se comemoram os 100 anos da Revolução Chinesa de 1949.
Até lá, o país asiático continuará a exercer fortes influências políticas, sociais, militares e económicas no mundo e continuará a ser exemplo de um país derrotado por uma guerra de poderes que se ergueu em prol da igualdade social e de um progresso interno e externo.