“O Ano Novo Chinês é cada vez mais conhecido, respeitado, valorizado e partilhado pelo povo português”

Entrevista a Wang Suoying, presidente da Associação Portuguesa dos Amigos da Cultura Chinesa.

Não é novidade, o Ano Novo Chinês está a chegar e são vários os desejos da professora Wang Suoying para o novo ano. Em entrevista ao Ni Hao Portugal, Suoying revela que os portugueses estão cada vez mais atentos a esta celebração e que a associação tem promovido a participação de todos os cidadãos nos desfiles, para juntos celebrarem a chegada do ano novo.

 “No mundo de hoje, a paz e a harmonia entre povos diferentes devem ser realizadas através da compreensão de culturas diferentes. Em Portugal, o Ano Novo Chinês está a ser cada vez mais conhecido, respeitado, valorizado e partilhado pelo povo português […] Tudo isto mostra, por um lado, a simpatia e a amizade do povo português com os chineses e com a sua tradição e, por outro, o reconhecimento da comunidade chinesa pela sociedade portuguesa, resultante dos esforços e do trabalho positivo dos emigrantes chineses na sua integração à sociedade local”.

Wang Suoying é atualmente docente da Universidade de Aveiro, Investigadora do Centro de Linguística da Universidade Nova de Lisboa e Presidente da Direcção da Associação Portuguesa dos Amigos da Cultura Chinesa ( ZWY ).

Mestre em Linguística, Suoying desempenha ainda funções como tradutora, escritora e investigadora sobre as línguas, literaturas e culturas da China e de Portugal. No meio disto, em 2009 criou o coro Molihua, composto por alunos portugueses e chineses. 

Wang Suoying Fonte: Revista Macau

O Ano Novo Chinês constitui a maior festa tradicional da China, sendo a celebração mais importante aguardada pela comunidade chinesa. Para a professora, essa tradição é mantida desde 1912, altura em que o calendário gregoriano foi introduzido na China. “Antes dessa data, durante vários milénios, os chineses festejavam o Ano Novo Lunar para se despedir do ano velho e acolher o ano novo, esperando que tudo corresse melhor no novo ciclo temporal de 12 luas/12 meses”. 

Actualmente, para festejar a chegada do novo ano, o governo chinês oferece três dias de feriados, aos quais são somados dois fins de semana para formar uma semana de folga, vulgarmente designada Semana de Ouro. Os mais modernos e menos tradicionalistas usam essa semana para viajar e conhecer outros países/continentes. 

Na véspera de ano novo, muitos pais colocam algum dinheiro em envelopes vermelhos e põem-nos debaixo dos travesseiros das crianças. “Também os patrões, os chefes e os casados costumam oferecer um envelope vermelho com algum dinheiro, respectivamente aos seus empregados, subalternos, filhos, netos ou sobrinhos solteiros”. À noite, “toda a família se reúne para jantar, tal como acontece com a ceia de Natal no Ocidente. O jantar chama-se Jantar do Ano ou Jantar na Noite do Ano. Quando chega à meia noite, começam a rebentar petardos e panchões”. 

Decorar casas, comprar prendas e preparar a comida, sobretudo para o Jantar do Ano são as principais tradições das famílias chinesas. Conforme a tradição, as pessoas que trabalham ou vivem noutras localidades/países regressam às suas casas para passar o Ano Novo junto dos seus avós, pais, tios, irmãos entre outros membros da família. Por essa razão, é registada uma grande intensidade do transporte nacional, “todos os comboios e todos os aviões estão superlotados para que os passageiros possam chegar a tempo ao jantar”. 

Hoje, esse fenómeno é considerado a maior migração humana do planeta e chama-se Chunyun. Ao longo de 40 dias, o povo chinês, migrado noutros países, volta às suas casas para celebrar o Ano Novo Chinês junto dos seus. Este ano, este período começou a 10 de Janeiro e termina a 18 de Fevereiro. 

Durante o Chunyun , estão previstas serem realizadas cerca de três mil milhões de viagens, um aumento face ao ano passado, segundo dados revelados pela CNN. Desses, 2,43 mil milhões serão feitas por automóvel (+1,2% face a 2019), 440 milhões de comboio, 79 milhões por avião e os restantes por via marítima. De acordo com a mesma publicação, a CNN justifica que o aumento pode ser justificado pela sobreposição de duas épocas com grande afluência de viagens na China: Ano Novo Chinês e Férias de Inverno dos Estudantes Universitários. 

De volta às tradições da véspera do novo ano, a família de Wang Suoying organiza, desde que veio viver para Portugal, um jantar-convívio do Ano Novo Chinês. Nesses jantares, estão presentes a família, amigos e alunos e membros da associação. Em cada ano, a escolha do restaurante é diferente, mas há iguarias que nunca poderão faltar.   

Embora tenha nascido em Shanghai, a família de Suoying é do Sul da China e a e do seu marido do norte, e como tal existem três pratos imprescindíveis para o jantar da passagem de ano. Jiaozi(Ravioli)  para os chineses do norte, Niangao (Bolo do Ano) para os do sul, e peixe para todos. “Jiaozi é feito de farinha de trigo, com recheio de carne ou carne e legumes, niaogao é feito de arroz glutinoso e o peixe é para todo o povo, já que significa ter o ano com dinheiro a sobrar, ou seja, ter todos um ano de prosperidade”.  

Depois do jantar, é tempo de esperar pela meia noite. “Explodir panchões (cartucho de pólvora, revestido por papel vermelho) e lançar fogos de artifício são alguns dos hábitos relacionados com a passagem de ano”.

Noutros tempos, era outro o ritual celebrado, conforme nos contou Wang Suoying: Noutros tempos, na noite de passagem de ano, reza a lenda que os cidadãos chineses passavam a noite em claro devido à Lenda do Ano Novo Lunar”. Segundo a lenda, Nian era um demónio que aparecia no final de cada ciclo de doze luas para devorar as pessoas. Na noite de passagem de ano, as pessoas passavam então as noites em claro para não serem devoradas pelo demónio.

E se o vissem, avisavam uns aos outros que o Ano Novo tinha chegado. No dia seguinte, as pessoas ao encontrarem-se nas ruas, trocavam felicitações para festejar o facto de não terem sido devoradas pelo demónio. “Mais tarde, o povo descobriu que o demónio temia o barulho e a cor vermelha e começaram a rebentar petardos e a decorar as casas e povoações com a cor vermelha, como forma de expulsar o demónio”. A partir daí, a cor vermelha tem sido considerada uma cor de felicidade que afasta os maus espíritos. 

Depois das celebrações da entrada no novo ano, a festa dura quinze dias, altura em que se celebra o Festival das Lanternas, “outro ponto alto das festividades”. Com uma história de mais de dois mil anos, “é tradição pendurar nas ruas todo o tipo de lanternas para as pessoas apreciarem”. Em muitas lanternas é recorrente estar escrito adivinhas para as pessoas encontrarem a solução. Nos dias de hoje “organizam-se muitas exposições de lanternas de todas as formas, cores e materiais, com personagens, plantas, animais etc”. 

Nessa noite, há sempre as tradicionais danças do leão e do dragão. “Nas danças do leão, normalmente um leão é representado por duas pessoas. Na arena, um guerreiro brinca com o leão com uma bola e o leão sobe, desce, salta, levanta-se, deita-se, praticando mil movimentos”. 

Questionada sobre a importância que os signos têm para a população chinesa e para si, a presidente da associação respondeu que todo o povo chinês, incluindo a comunidade chinesa residente em Portugal, acredita muitos nesses signos. “Eu sou coelho e identifico-me muito com as suas qualidades […] As pessoas deste signo são consideradas bondosas, responsáveis e firmes”. 

 

Actividades organizadas pela Associação ZWY para o Ano Novo

Criada em Dezembro de 2018, este é o segundo ano em que a associação participa nas celebrações do Ano Novo Chinês. A Associação é uma instituição sem fins lucrativos, com sede em Lisboa e tem como missão “promover e desenvolver actividades de carácter cultural, desportivo, recreativo e social”. 

A 18 de Janeiro decorre nas ruas de Lisboa o tradicional desfile chinês e Wang Suoying convida todos os cidadãos, chineses e não chineses, a participarem no desfile da associação. Para isso, basta contactar a associação e manifestar o interesse em desfilar com os mesmos. O desfile realiza-se entre as 11 e as 12 horas de sábado. O vermelho não pode faltar. Mais informações aqui .

No dia seguinte, o Coro Molihua vai aturar, por volta das 16h45 para encerrar as comemorações do Ano Novo Chinês em Lisboa. O Coro Molihua foi fundado em 2009 por Wang Suoying. É composto por cidadãos portugueses que aprendem chinês e chineses que aprendem o português. Desde a sua criação que actuam nestas festividades. “Tudo isto mostra claramente a compreensão e a amizade entre o povo chinês e o povo português”. Além desta iniciativa, a associação estará presente durante o fim de semana num dos quiosques dos Jardins de Alameda. 

Na Véspera de Ano Novo, a 24 de Janeiro, a associação realiza um jantar-convívio. “Todos os participantes  vão receber uma prenda dos professores e os do signo Rato, mais uma prenda oferecida pelo Turismo de Macau”. Este ano, o evento decorre no Restaurante New Wok, na Avenida Almirante Reis, 127A, em Lisboa, pelas 19 horas. As inscrições encontram-se abertas até dia 23 e a reserva de lugares deve ser feita pelo seguinte email: wangsuoying@hotmail.com

 

“Desejo a todos um óptimo ano novo, cheio de saúde, paz e prosperidade!”, Wang Suoying.

 

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