Opinião de Raquel Carvalho, técnica superior da União das Cidades Capitais de Língua Portuguesa (UCCLA)
Até prova em contrário, é um facto que o novo coronavírus (nCoV), designado como Sars-Cov-2, surgiu em Wuhan, na China, em dezembro de 2019. No entanto, a propagação do vírus a nível mundial e as curvas exponenciais de casos que temos vindo a verificar nos diversos países, deve ser analisada com base nas políticas adoptadas pelos vários governos à escala global.
A ajuda da comunidade chinesa em Portugal, no combate à Covid-19, tem sido muita e exemplar. Resultado da experiência adquirida, o apoio da China tem acompanhado as distintas fases de pandemia – desde a primeira fase (onde se verifica a ausência de casos de infecção), à fase de mitigação e à fase de contenção – e, acima de tudo, tem sido feita de modo directo e indirecto.
Os chineses foram pioneiros nas medidas de combate à Covid-19
Infelizmente em vários países, a reacção inicial foi a de afastar os chineses por os associar a um vírus, manifestando actos de xenofobia, relatados nas redes sociais e contextos sociais.
Quando ainda não havia indícios de vírus no país e, em termos de ajuda directa, a comunidade chinesa procurou informar a população acerca da propagação do vírus Sars-Cov-2, alertando, desde a primeira instância, para a necessidade de isolamento e do uso de máscaras.
Recomendando a amigos e familiares em Portugal as normas de segurança, foram aplicadas no combate à Covid-19 na China, através de grupos de apoio e troca de informações gerados ao nível das redes sociais, desde Facebook, WeChat, entre outros.
A comunidade chinesa providenciou espaços à quarentena voluntária, precedente à presença da Covid-19 em Portugal, de pessoas vindas da China. Paralelamente providenciou um serviço de entrega de produtos alimentares ao domicílio, por forma a evitar a eventual propagação do novo coronavírus.
Numa segunda fase, na presença da Covid-19 em Portugal, a comunidade chinesa limitou-se ao confinamento absoluto e encerramento dos seus estabelecimentos comerciais. E, enquanto na Europa se questionava a veracidade do uso da máscara no combate à disseminação do Sars-Cov-2, já os chineses adquiriam o material para uso próprio e disponibilização a terceiros.
Ao acompanharem a situação do seu país de origem e familiares, a comunidade chinesa residente em Portugal foi igualmente acompanhada pelos serviços consulares e diplomáticos da República Popular da China.
A população chinesa tem de apresentar, diariamente, através de um formulário disponibilizado pelo governo central, a medição da sua temperatura corporal, o que permite antecipar o diagnóstico de eventual presença de Covid-19. Este tipo de medidas não protege apenas a população chinesa residente em Portugal, mas igualmente a restante população do país (auxílio indirecto).
Foram várias as campanhas solidárias para capacitar Portugal do material necessário ao Covid-19
As instituições sediadas em Portugal que trabalham o intercâmbio Portugal-China também marcaram o seu papel com contributos notórios, de entre elas, a Liga dos Chineses em Portugal.
A Associação de Cooperação Portugal – Grande Baía, juntamente com a Associação de jovens empresários Portugal-China, a Federação Sino PLPE e a Liga dos Chineses em Portugal, constituíram uma plataforma logística de apoio à aquisição e à de angariação de materiais para os profissionais de saúde e outros serviços de resposta à pandemia Covid-19.
Os grandes pólos, de chineses residentes em Portugal, encontram-se nas periferias de Lisboa (Lisboa, Sintra, Amadora) e Porto (Vila do Conde, Porto). Locais onde essa ajuda se destacou com a apelidada ajuda ao “segundo país”.
O mesmo ocorreu nas cidades alvo de geminações ou cujos polos universitários celebraram protocolos de intercâmbio, ou oferecem um plano de estudos direccionada à comunidade chinesa. Como por exemplo, a cidade de Braga que oferece a Licenciatura em Estudos Orientais: Estudos Chineses e Japoneses, houve a doação de 10 mil máscaras e 500 kits de proteção individual e em Coimbra, ex-alunas do Curso de Língua Portuguesa, da Universidade de Coimbra doaram material ao Ministério da Saúde, vindo de Macau.
Não é dissociável falar-se do contributo da comunidade chinesa em Portugal, sem se falar do contributo da República Popular da China
A China Three Gorges Corporation (CTG), em parceria com a EDP, entregaram à Embaixada de Portugal em Pequim, 50 ventiladores, 200 monitores médicos e consumíveis e materiais de suporte para reforçar o apoio aos hospitais portugueses no combate à Covid-19.
Reforçando a atuação da EDP, que passou pela doação de 500 mil máscaras cirúrgicas, cerca de 20 mil máscaras para respiradores e 10 mil fatos de protecção foram entregues à Reserva Estratégica Nacional, em Lisboa, ao cuidado do Exército Português.
O empresário macaense Wu Zhiwei, proprietário da Quinta da Marmeleira, em Alenquer, doou mais de 200 mil máscaras adquiridas na China e destinadas a profissionais de saúde em Portugal.
A promotora imobiliária chinesa Reformosa, que investe em Portugal, fez uma doação de 80 ventiladores, 1 milhão de máscaras, 22 mil fatos de proteção, 100 mil pares de luvas, 100 mil óculos de proteção e 10 mil toucas cirúrgicas, entre outros materiais de apoio aos hospitais portugueses. Esta ação resultou de uma parceria entre o governo português, a Embaixada de Portugal na China e a Câmara Municipal de Lisboa.
A Fundação Alibaba e a Fundação Jack Ma doaram máscaras, testes e materiais de protecção a Portugal, assim como diversos tipos de materiais médicos pelos vários continentes, desde a África, América, Ásia e Europa.
A Fosun entregou 700 mil máscaras e 200 mil testes para despiste da Covid-19 ao Serviço Nacional de Saúde (SNS), enviados directamente da China.
A lista de colaborações é extensa, tendo sido apenas enumerados alguns exemplos do contributo dos agentes internacionais.
Na era da globalização, não só a informação chega a todo o mundo. Evidentemente que esta problemática da Covid-19 terá repercussões na ordem internacional, mas não se trata apenas de um debate geopolítico.
Mais do que um debate de ideologias políticas, o Covid-19 é um debate de humanismo!