Visão: Por que o G7 deve cooperar com China?

Opinião de Rui Lourido, presidente do Observatório da China.
Visão: Cimeira do G7 prefigura competição com China

Envolver o G7 na estratégia americana anti-China revelou-se difícil. A pressão do governo de Joe Biden sobre os países ocidentais, para que estes passem a isolar a China, criou desconforto nos líderes dos mais importantes países europeus, os quais manifestaram desacordo face à campanha anti-China, inclusive a chanceler alemã, Angela Merkel, e o presidente francês, Emmanuel Macron.

Também o deputado irlandês, Mick Wallace, defendeu no Parlamento Europeu que a “Ameaça Chinesa” era uma invenção dos EUA para defesa dos seus próprios interesses de supremacia económica e financeira, e não uma ameaça real à sua segurança.

Esta retórica também favorece o lobby da indústria armamentista, que tem um grande peso político nos EUA. No mesmo sentido, já o ex-secretário de estado americano, Henry Kissinger, citava Liu Mingfu, professor da Universidade de Defesa Nacional da China, – “o mundo será harmonioso porque a liderança da China será mais sábia e moderada que a dos Estados Unidos, porque a China evitará a hegemonia e limitará o seu papel a agir como primus-inter-pares das nações do mundo”.

O Presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, procurou convencer os líderes do G7, a investirem no seu vago programa de infraestruturas: “Reconstruir melhor o mundo”, o qual foi apresentado como uma alternativa à iniciativa chinesa Cinturão e Rota (the Belt and Road, ou seja, B&R, sigla em inglês) que foi lançada em 2013, com um convite à participação de todos os países, desenvolvidos e em desenvolvimento.

De forma transparente, a China abriu as estruturas financeiras do Cinturão e Rota à parceria e investimento dos países ocidentais, com base nos princípios da Carta das Nações Unidas (como a não intervenção nos assuntos internos dos outros países), e no benefício mútuo dos respetivos investimentos, sendo que mais de 30 países se associaram como fundadores.

Em 2020, estavam em desenvolvimento mais de 2.600 projetos, com um investimento de cerca de 3,7 trilhões de dólares. A China garante partilha de objetivos, de investimentos e de recursos, com flexibilidade de métodos.

É do interesse de Portugal e da Europa ter a China como parceiro estratégico, investindo nos projetos de interesse mútuo no âmbito da Nova Rota da Seda verde, como no novo terminal do Porto de Sines, na ligação ferroviária transeuropeia, na partilha de novas tecnologias, quer as ligadas à Inteligência Artificial, quer à 5G, entre outras. É importante atuar em complementaridade com a China, pois tem sido a economia chinesa e os seus investimentos a promover a recuperação mais rápida da economia mundial.

A China tem vindo a valorizar o espaço da cooperação internacional, nomeadamente com a União Europeia e em particular com Portugal e os países de língua portuguesa.

A Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD) divulgou, no passado dia 21 de junho, o Relatório sobre o Investimento Mundial em 2021, o qual vem confirmar que, apesar da tentativa crescente de boicote dos EUA, a China continua a inspirar uma confiança generalizada incluindo nos países ocidentais mais ricos.

Assim, a China é mesmo o único país do mundo a captar, em 2020, um aumento de 6% de investimento estrangeiro direto, chegando a US$149 bilhões. Além disso, no ano passado, a China foi também o maior investidor do mundo, com um investimento direto no estrangeiro de US$133 bilhões. No entanto, por causa da pandemia, o investimento direto estrangeiro na Europa diminuiu 80% e reduziu 40%, na América do Norte. A Ásia é a única região do mundo que teve crescimento nesta categoria.

Por outro lado é necessário ter uma visão abrangente e não esquecer, no atual mundo multipolar, o papel dinamizador da China em diferentes fóruns como os BRICS e no maior bloco comercial mundial, a Parceria Económica Regional Abrangente (RCEP), que envolve 15 países Asiáticos, com 30% população do globo e 29% do PIB mundial, e que continua aberto a outras nações da Ásia Central e demais nações do sul da Ásia e da Oceânia.

Os países europeus necessitam afirmar a sua autonomia face à tentativa dos EUA de continuarem a impor a sua hegemonia. Neste mundo globalizado, pós pandemia, é do interesse da União Europeia reativar e fazer aplicar o Acordo Global para o Investimento Europa-China, que foi suspenso sob pressão de Washington. Este acordo dará à UE condições mais favoráveis no acesso ao mercado interno chinês.

A UE necessita compreender o jogo duplo dos EUA que, por um lado, exige dos seus aliados não manterem relações comerciais intensas com a China, mas, por outro lado, o próprio governo Biden negocia a intensificação e aprofundamento do seu acordo comercial com a China. Os EUA procuram garantir um maior e contínuo investimento chinês nos títulos de tesouro, a fim de facilitar o atual financiamento na recuperação americana, nomeadamente nas suas redes de infraestruturas que carecem de investimento urgente. De janeiro a maio de 2021, o comércio bilateral entre a China e os EUA aumentou mais de 50%, com importação de manufaturas baratas por parte dos americanos e exportação de commodities para a China.

O Ocidente e a UE devem compreender que a estratégia chinesa é de relacionamento pacífico, de convite ao diálogo e ao estabelecimento de parcerias múltiplas, tendo convidado todos os países a estabelecer acordos internacionais de comércio, respeitando as leis internacionais da OMC, como um instrumento de relacionamento pacífico e de criação de recursos necessários à estabilidade e desenvolvimento interno sustentável das respectivas sociedades.

São os EUA e a Europa que mantêm a única aliança militar formal do globo, que ameaça os restantes países que não cumpram com regras decididas unilateralmente pelos EUA, ou de um grupo restrito de países ocidentais. Após a reunião do G7, na primeira reunião da OTAN com o presidente Joe Biden, no passado mês de junho, foi feita uma referência expressa à China, no que poderá ser interpretado como uma ameaça velada à China. Os países que integram o G7 não devem esquecer as suas responsabilidades diretas nos cerca de 150 anos de tratados desiguais e de exploração impostos à China.

O multilateralismo e o comércio livre são valores partilhados pela China e pela Europa. A China está disposta a trabalhar em conjunto com Portugal e a Europa, para defender o Direito Internacional baseado na ONU, na sua Declaração dos Direitos Humanos (que foi redigida pela China e o Canadá) e nas suas organizações multilaterais como a OMC. A China tem reafirmado que continuará a apoiar firmemente o processo da integração europeia bem como a sua coesão e fortalecimento.

Concordamos, assim, com as autoridades chinesas quando referem – “é nossa convicção que os países, grandes ou pequenos, fortes ou fracos, pobres ou ricos, são iguais e que as questões mundiais devem ser tratadas por meio de consultas entre todos os países”, com o objetivo de aperfeiçoar constantemente o sistema de governação global e de construção conjunta de um mundo mais próspero e harmonioso.

Na nossa opinião, a grave situação internacional exige a concentração de recursos à escala mundial para combater a pandemia e as alterações climáticas e isso só é possível de forma pacífica e em colaboração com a China e as restantes nações do Oriente e do Ocidente. Não é aceitável tentar impor a vontade de alguns países sobre outros países. Só a ONU tem a legitimidade para ditar as leis sobre os restantes países e a comunidade internacional.

Opinião de Rui Lourido, presidente do Observatório da China.

Artigo publicado em CRI ( Rádio Internacional Chinesa).

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