Cresce o desagrado de muitos europeus de várias áreas socioeconómicas perante a instrumentalização de organizações internacionais pelos EUA, como foi feito na cimeira do G7 de 2021, para envolver a Europa no clima de guerra fria contra a China.
Generaliza-se a consciência de que a grave crise que assola o mundo atual, nomeadamente a pandemia, as alterações climáticas e as migrações de emergência, só podem ser solucionadas com o empenho conjunto dos principais países do Oriente, com destaque para a China e a Índia, e do Ocidente com destaque para a América, a Europa e a Rússia.
Não é agravando as naturais diferenças de organização política e socioeconómica entre as nações, nem tentando criar um ambiente de conflitualidade tipo “cruzada” proselitista, reeditando a falhada política do “eixo do bem” contra o “eixo do mal”, e que surpreendentemente o governo Biden dos EUA quer atualizar, numa perigosa trajetória de propaganda ideológica, de confronto entre as pretensas “Democracias e Autocracias”.
É irresponsável desperdiçar energias e recursos a tentar isolar a China, procurando retardar, o maior tempo possível, a legítima recuperação e desenvolvimento sócio económico da China, de uma sociedade em desenvolvimento para um país desenvolvido.
Os governos reunidos no G7 demonstraram não compreender a gravidade da pandemia em nível mundial, que já matou 3,98 milhões de pessoas até dia 5 de julho.
De forma egoísta privilegiaram o interesse económico das farmacêuticas ocidentais, ao não aprovarem a suspensão das patentes das vacinas, nem a autorização do fabrico e a distribuição geral das vacinas, a todos os países, com os meios técnicos competentes.
Só assim se explica que, com a enorme carência de vacinas, o G7 também não tenha querido defender a aprovação pelos seus membros das vacinas chinesas e russas, já aprovadas pela OMS. Para mascarar esta incapacidade, o G7 tentou compensar com a afirmação da intenção de oferecer um bilhão de doses aos países mais carentes.
Só quando todos os países do mundo tiverem atingido a imunidade de grupo, com cerca de 75% a 80% de toda a sua população vacinada, estaremos mais seguros de novas variantes da Covid-19. Assim concordamos com a crítica do ex-primeiro-ministro britânico Gordon Brown: “…que esta cúpula ficará para a história como uma oportunidade perdida, quando precisávamos de 11 bilhões de vacinas eles apenas nos ofereceram um plano para um bilhão”.
Mas os governos do G7, dispersando energias, alinharam ainda com a mistificação política e ideológica do Governo de Joe Biden no debate quanto à origem da Covid-19, na crítica à China, ao levantar dúvidas aos múltiplos relatórios científicos internacionais, em especial ao da Organização Mundial de Saúde, que após investigação detalhada na China e no laboratório de Wuhan, concluía não ter encontrado qualquer prova de o coronavírus ter sido fabricado artificialmente.
Pelo contrário, a investigação científica ao ADN da Covid-19 apontava para o seu surgimento natural em um animal selvagem. Contudo, demonstrando parcialidade política, os governos destes países ricos ocidentais não criticaram a manipulação e fragilização das instituições científicas por parte do governo dos EUA, ao ordenar aos seus serviços secretos a tarefa de decidir como esse vírus foi criado na China.
Em relação ao meio ambiente e às alterações climáticas também não foram tomadas medidas concretas e eficientes pelos governos presentes no G7. Pelo que o diretor do Greenpeace no Reino Unido, John Sauven, criticou: “Sem um acordo para acabar com todos os novos projetos de combustíveis fósseis – algo que deve ser feito este ano, se quisermos limitar o perigoso aumento da temperatura global – esse plano deixa muito a desejar”.
O Presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, convenceu os líderes do G7, em um acordo de princípios, a lançar o seu programa de infraestruturas, que intitulou de Build Back Better World (Reconstruir melhor o mundo).
Ao ser apresentado sem um plano de financiamento concreto, sem compromisso de parcerias, nem compromisso de transferência de tecnologias para os países parceiros, é mais um esboço de intenções para conter o desenvolvimento da China e tentar boicotar o sucesso da Nova Rota da Seda.
É positivo que os EUA tenham finalmente reconhecido, apesar de tardiamente, a necessidade de um desenvolvimento pacífico nas relações económicas internacionais e na modernização das infraestruturas e telecomunicações nas ligações entre a Ásia, a Europa, a África e a América.
É do conhecimento público que a estratégia tradicional dos EUA tem sido de impedir que outras potências se desenvolvam de forma autónoma e escapem à sua hegemonia. Tal aconteceu com o boicote dos EUA ao rápido desenvolvimento económico do Japão, ou no promover a fragilidade da União Europeia e do Euro e presentemente na tentativa de travar a recuperação da China.
As decisões do G7 prefiguram uma competição negativa dos países considerados mais ricos do Ocidente, em relação à China.
Na nossa opinião é positivo e há espaço para o investimento de todos os países. Mas perante a multiplicidade de necessidades, nomeadamente a de financiamento dos inúmeros países em desenvolvimento, nos diferentes continentes, será premente uma ação articulada e complementar, para garantir o desenvolvimento harmonioso e pacífico do mundo.
Opinião de Rui Lourido, presidente do Observatório da China.
Artigo publicado em CRI ( Rádio Internacional Chinesa).