Publicamos a 1ª parte de um texto de Fernanda Ilhéu, Professora no IDEFE / ISEG / Universidade de Lisboa e Presidente da Associação Amigos da Nova Rota da Seda que considera que a China cimenta a sua relação com a Ásia e com a Europa e prepara um novo paradigma de desenvolvimento.
A forma eficaz como a China conseguiu, em cerca de 2 meses, controlar a primeira vaga da epidemia COVID-19 e neutralizar as vagas subsequentes, que a maioria de outros países nomeadamente os EUA e os países europeus estão a sofrer, permitiu-lhe logo a partir dos meses de abril e maio começar a sua recuperação económica, introduzindo estímulos ao tecido empresarial e às famílias, nomeadamente à produção industrial e ao retalho, ao consumo, esses estímulos assim como os incentivos fiscais e de crédito oferecidos tiveram um rápida resposta positiva.
Nas “Duas Sessões” nome pelo que são conhecidas as duas reuniões anuais da Conferência Consultiva Política do Povo Chinês e da Assembleia Nacional do Popular que normalmente têm todos os anos lugar em março em Pequim, e que em 2020 devido a COVID-19, ocorreram de 22 a 28 de maio, foi notória a precaução do governo chinês sobre a forma como a pandemia iria evoluir e o seu impacto na economia.
A preocupação de não criar expetativas económicas que não se pudessem cumprir deverá ter levado a que o Primeiro Ministro Li Keqiang não tivesse, no seu discurso de abertura, fixado uma taxa de crescimento para o ano em curso, contrariamente ao que sempre acontece nestas reuniões, e tivesse sido muito cauteloso nas expetativas do governo relativamente a outras variáveis económicas, como a criação de emprego, o crescimento industrial, o crescimento do retalho, a inflação entre outras.
Alertou sim para o fato do COVID-19 não ir parar tão cedo e para o desafio que todos os países iriam enfrentar ser duplo, controlar a pandemia e reanimar a economia.
Lembramos as suas palavras “teremos que fazer o melhor para conseguir um equilíbrio e continuar a explorar o nosso caminho em frente. Neste processo a cooperação internacional é vitalmente importante. Quer para enfrentar o vírus quer para fazer crescer a economia nós devemos trabalhar juntos com o sentido de parceria para eventualmente derrotar o ataque violento da epidemia”.
As estatísticas preliminares chinesas foram já anunciadas esta semana e podemos concluir que em 2020 o Produto Interno Bruto (PIB) da China teve um valor nominal de 100 triliões de yuan (US$15,4 triliões), o que quer dizer um crescimento positivo de 2,3% relativamente ao ano anterior, excedendo as previsões do Fundo Monetário Internacional e do Banco Mundial que apontavam para um crescimento anual de 1,9%.
Embora seja a taxa de crescimento mais baixa desde 1976, quando a economia chinesa decresceu 1,6% no final da Revolução Cultural, ela é notável porque quase todas as economias do mundo, nomeadamente as grandes, apresentam uma diminuição da sua riqueza, por exemplos os EUA tiveram uma taxa negativa de 3,6% , as economias da Zona Euro 7,6%, o Japão 5,3%, a Índia 9,6%, a Rússia 4%, o Brasil 4,5% entre outras.
Este aumento do PIB chinês foi conseguido devido à taxa de crescimento de 6,5% no último trimestre, o que indica que a economia chinesa está já a crescer ao nível do Novo Normal prevendo-se assim que em 2021 possa até ultrapassá-lo e vir a registar taxas de crescimento de 7,5%.
A recuperação económica da China começou com a reabertura das fábricas a seguir às férias do Ano Novo Chinês, a reanimação das exportações foram um bom estímulo ao acelerar da sua atividade, devido à enorme procura externa, nomeadamente de produtos ligados aos equipamentos médicos e produtos relacionados com a pandemia.
Enquanto na Europa e nos EUA tudo estava confinado, a indústria chinesa registava uma pressão enorme em termos de procura.
O crescimento da produção industrial foi de 2,6%, e a taxa de crescimento de rendimento per capita disponível foi de 4,7% mas na realidade foi de 2,1 depois de deduzida a inflação, talvez pelo aumento ser pequeno comparativamente a outros anos, o consumidor chinês manteve-se cauteloso e relutante a gastar e as despesas do consumo per capita apresentaram taxas de crescimento negativo em cerca de 4%, depois de deduzido o fator de correção de preços.
Em 2020 foram criados ma China mais 11,86 milhões de novos empregos urbanos, mais 131% que o objetivo de 9 milhões fixados pelo governo e a taxa de desemprego fixou-se em 4,7% enquanto em 2019 esta taxa foi de 5,5%. Os investimentos de capital fixo cresceram 2,9%.
Fernanda Ilhéu, Professora no IDEFE / ISEG / Universidade de Lisboa e Presidente da Associação Amigos da Nova Rota da Seda